sexta-feira, 27 de maio de 2016

FESTA DO CORPO DE DEUS.
QUINTA-FEIRA DEPOIS DA FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE.

Ó Pão vivo que escondes o meu tesouro, prostrado diante
de ti, adoro-te! (J. C. Poesias).

1— De etapa em etapa, através do ano litúrgico, fomos subindo desde a consideração dos mistérios da vida de Jesus até à contemplação da SS.ma Trindade cuja festa celebramos no Domingo passado. Jesus, nosso Mediador, nossa vida, tomou-nos pela mão e levou-nos
à Trindade, e hoje parece que a própria Trindade nos quer conduzir a Jesus considerado na Sua Eucaristia. «Ninguém vai ao Pai senão por mim» (Jo. 14, 6) disse Jesus; e acrescentou:
«Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não atrair» (ib. 6, 44).
É este o itinerário da alma cristã: de Jesus ao Pai, à Trindade; da Trindade, do Pai, a Jesus; Jesus leva-nos ao Pai, o Pai atrai-nos para Jesus. O cristão, de maneira alguma pode prescindir 'de Cristo; Ele é, no sentido mais rigoroso da palavra, o nosso Pontífice, Aquele que Se fez ponte entre Deus e nós. Encerrado o ciclo litúrgico em que se comemoram os mistérios da vida terrena do Salvador, a Igreja como boa mãe, sabendo que a nossa vida espiritual não pode subsistir sem Jesus, conduz-nos a Ele, vivo e verdadeiro no Santíssimo Sacramento do altar. A solenidade do Corpo de Deus não é a simples comemoração de um facto sucedido historicamente há perto de dois mil anos, na noite da última ceia; é a festa de um facto atual, de uma realidade sempre presente e "Sempre viva no meio de nós, pela qual podemos muito bem dizer que Jesus não nos «deixou órfãos», mas quis ficar permanentemente conosco na integridade da Sua pessoa, com toda a Sua humanidade, com toda a Sua divindade. «Não há nem nunca houve nação tão grande canta com entusiasmo o Oficio do dia que tivesse os deuses tão próximos de si, como está perto de nós o nosso Deus» (BR.). Sim, na Eucaristia, Jesus é verdadeiramente o Emanuel, o Deus conosco.

2— A Eucaristia não é só Jesus vivo e verdadeiro no meio de nós: é Jesus feito nosso alimento. É este o aspecto principal, sob o qual a liturgia de hoje nos apresenta este mistério; pode afirmar-se que não há parte alguma da Missa que não trate dele diretamente, ou que ao menos lhe não faça referências. A ele alude o Intróito, recordando o trigo e o mel com que Deus alimentou o povo hebreu no deserto, manjar prodigioso e, contudo, só longínqua imagem do Pão vivo e vivificante da Eucaristia. Fala dele a Epístola (I Cor. 11, 23-29), referindo a instituição do sacramento quando Jesus «tomou o pão e, dando graças, o partiu e disse: Recebei e comei, isto é o meu corpo»; canta-o o Gradual: «os olhos de todos esperam em Vós. Senhor e Vós dais-lhes de comer no tempo -oportuno; mais amplamente lhe entoa um hino a belíssima sequência Lauda Sion, ao passo que o Evangelho (Jo. 6, 56-59), fazendo eco ao Aleluia, reproduz o trecho mais significativo do discurso em que Jesus anunciou a Eucaristia: «a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida»; o Communio, depois, retomando uma frase da Epístola, recorda-nos a necessidade de receber dignamente o Corpo do Senhor e, finalmente, o Postcommunio diz-nos que a comunhão eucarística é penhor da comunhão eterna do céu. Mas para compreender melhor o valor imenso da Eucaristia, é preciso voltar às palavras de Jesus, que muito oportunamente, são citadas no Evangelho do dia: «0 que come a minha carne e bebe o meu sangue, fica em mim e eu nele». Jesus fez-Se nossa comida para nos assemelhar a Ele, para nos fazer viver a Sua vida, para nos fazer viver n’Ele, como Ele mesmo vive em Seu Pai. A Eucaristia é verdadeiramente o
sacramento da união ao mesmo tempo que é a prova mais clara e convincente de que Deus nos chama e solicita à íntima união com Ele.

Colóquio – «Ó Deus, ó Criador, ó Espírito de vida que cumulais as Vossas criaturas de dons sobrenaturais sempre novos, Vós concedeis aos eleitos o dom que sempre se renova: o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo!

«Ó Jesus, Vós instituístes este sacramento movido não pelo temor, não pelo desejo de alguma vantagem para Vós, mas movido unicamente por um amor que não tem outro nome senão: amor Sem medida. Vós instituístes este sacramento porque o Vosso amor vai além de toda a expressão. Ardendo em amor por nós, quisestes dar-Vos a nós e ficastes aí, na hóstia consagrada, todo inteiro e para sempre até à consumação dos séculos. E não fizestes isto só em memória da Vossa morte que é a nossa salvação, mas para permanecerdes todo conosco, sempre conosco.
«Alma minha, se queres penetrar nas profundezas deste mistério, é preciso que tenhas a vista apurada pelo amor. Ê preciso que vejas e entendas! Considera a última ceia, considera Jesus Cristo consciente de que o Seu corpo bem depressa deverá separar-se da humanidade, considera o amor com que, desejando unir-Se para sempre a nós, instituiu este sacramento onde pudesse estar corporalmente e para sempre unido à humanidade.
Ó amor inextinguível! Amor forte, verdadeiramente inflamado, ó amor de Cristo, ó amor pelos homens! Ó Jesus, tínheis já diante dos olhos a morte que Vos aguardava, as dores e os tormentos atrozes da Paixão rasgavam já o Vosso Coração e, apesar de tudo, quisestes oferecer-Vos aos verdugos e fazer de modo que por meio deste sacramento, Vos pudessem ter sempre como dom de eternidade, ó Vós cujas delícias são estar com os filhos dos homens!
Ó alma minha, porque não quererás mergulhar cada vez mais com todo o teu ser no amor de Cristo que na vida c na morte nunca Se esqueceu de nós, mas Se quis dar todo a nós e unir-Se a nós para sempre?»
(B. Ângela de Foligno).

  

Ref: Intimità Divina. P. Gabriele di Santa Maria Maddalena 

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